O preço da NBA

Por Beatriz Sardinha

Apesar da aprovação de vacinas ao redor do mundo e campanhas de vacinação, a pandemia ainda não acabou, embora a NBA pense que sim.

Não temos apenas exemplos domésticos que priorizam o econômico em detrimento do humano, já que a terceira liga mais lucrativa do mundo vem, continuamente, reforçando seu posicionamento e colocando seus atletas em risco. Os Estados Unidos é o país com mais casos (mais de 24 milhões) e com mais mortes (mais de 400 mil) até o momento.

A crise pandêmica obviamente afetou negativamente a NBA. O cancelamento de 171 jogos da última temporada provocou o prejuízo de cerca de R$ 8,2 bilhões, comparado àquilo que era esperado na arrecadação. A liga paralisou seus jogos no dia 11 de março de 2020 e retornou em 30 de julho. A criação da “Bolha”, no Wild World Sports, em Orlando, foi a solução para que a NBA tivesse sua temporada regular finalizada e playoffs. A operação toda custou cerca de R$ 1,08 bilhões à liga e impôs diversas restrições às franquias e aos jogadores.

É sim muito custo parar a NBA. Em 2019, cada uma das 30 franquias vale, em média, U$ 1,9 bilhão. A TNT e a ESPN desembolsaram, em 2016, U$ 24 bilhões para transmitir a NBA durante um ano. Esse valor é direcionado igualmente às franquias da liga. Recentemente, a Nike passou a ser a empresa fornecedora dos materiais esportivos da NBA. E o valor? Novamente na casa do bilhão, correspondente a 245% do valor fornecido anteriormente pela Adidas.

Para 2020-21, a NBA propôs que a temporada regular tivesse 10 jogos a menos que o normal, totalizando 72. No entanto, para a nova temporada não foi planejado nenhum tipo de “Bolha”, ou número reduzido de arenas, como aconteceu no NBB. Quando se fala de esporte em alto rendimento e de ligas bilionárias como a NBA, cada fator importa.

Jogos adiados se multiplicam

Apesar disso, até o momento, vários jogos foram adiados e muitos dos que acontecem, apresentam listas extensas de desfalques, o que evidentemente diminui a qualidade do jogo. Mesmo marcas históricas, como a de Luka Doncic no dia 17 de janeiro ficam manchadas. No caso do jovem jogador, que conquistou seu vigésimo nono triplo-duplo e passou Michael Jordan na estatística, seu time teve um desempenho muito abaixo do esperado, quase que impossibilitando o time de vencer. Na ocasião, o Dallas Mavericks tinha 5 jogadores vetados porque estavam seguindo o protocolo da Covid-19.

Jogos adiados têm sido comum para diversos times que sequer tem número suficiente de jogadores disponíveis.  Esse foi o caso do Boston Celtics, depois de ter três jogos adiados, o time de Boston continuava sem atletas suficientes para enfrentar o Orlando Magic, no dia 12 de janeiro.

Na mesma data, o insider da ESPN americana, Adrian Wojnarowski, encheu a timeline da comunidade do Twitter com as novas medidas restritivas que a NBA passaria a adotar nos próximos 15 dias, com a intenção de evitar ao máximo um adiamento da temporada. Cenas como treinadores gritando sem máscara e adversários se abraçando vinham sendo frequentes nas transmissões e a decisão da Liga, ainda que covarde, era de preservar mais os jogadores.

Bom, as constantes notas comunicadas nos perfis oficiais da NBA mostram que o aumento das medidas não foi suficiente. Além de mais um anúncio, agora com o adiamento de Grizzlies e Blazzers devido a violação dos protocolos de segurança, a liga divulgou que outros 11 jogadores testaram positivo para a Covid-19.

As condições às quais a NBA tem submetido seus jogadores chega a ser surreal. O recente “sumiço” de Kyrie Irving pode sim ter relação com a chegada de James Harden ao elenco do Nets, mas conseguir ignorar o semblante abatido do armador em sua entrevista de “retorno” reflete a exaustão mental de muitas pessoas, não apenas jogadores.

O próprio caso do Toronto Raptors que, ao contrário do restante das franquias, continuou em uma espécie de “Bolha” em Tampa, forçando os jogadores a continuar longe de suas famílias. O caso de Karl-Anthony Towns beira o completo descaso. No dia da postagem de desabafo do jogador, não existia qualquer vontade de assistir aos jogos, por uma mínima questão de respeito.https://platform.twitter.com/embed/Tweet.html?creatorScreenName=blogdosouza&dnt=false&embedId=twitter-widget-1&frame=false&hideCard=false&hideThread=false&id=1338352639155855361&lang=pt&origin=https%3A%2F%2Fblog-do-souza.com%2F2021%2F01%2F24%2Fo-preco-da-nba%2F&siteScreenName=blogdosouza&theme=light&widgetsVersion=889aa01%3A1612811843556&width=550px

Diante de tudo isso que vem acontecendo na liga, temos um impasse diante de nós: priorizamos seres humanos que, por acaso, são atletas e nos trazem entretenimento diário ou iremos até o limite em favor de cifras bilionárias?

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